Consumo do público LGBTQIAP+ e a relação com a indústria: Pink Money & Queerbaiting

O estudo do comportamento de consumo dos clientes é uma prática realizada há décadas por diferentes companhias e pesquisadores, entender a jornada do consumidor faz com que as empresas consigam direcionar suas estratégias e atendam de fato as necessidades de seu público. Com o passar do tempo a indústria percebeu que compreender o comportamento de consumo do público LGBTQIAP+ se tornava uma prática lucrativa, em vista de que segundo o censo demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o número de famílias formadas por casais homossexuais que recebem de cinco a dez salários mínimos é triplicado quando comparado ao de famílias formados por casais heterosexuais que recebem a mesma quantia, logo percebe-se que o consumo desse público é maior, então tornou-se vantajoso para organizações começar a pensar em experiências voltadas para pessoas LGBTQIAP+.

Partindo desse contexto, surge o chamado “Pink Money” (dinheiro rosa, em tradução), termo que sugere a comercialização de produtos no meio. A expressão surgiu na década de 1970 nos Estados Unidos quando diversos grupos homossexuais estavam organizados juridicamente e não dispunham de patrocinadores para divulgar suas ações, então buscaram outras alternativas para um protesto nacional. Resultando em que num dia específico toda a nota de um dólar que passasse na mão de um gay deveria ser riscada com uma caneta rosa (pink) no canto superior direito. Então, na manhã seguinte, milhares de notas amanheceram coloridas apontando a força da comunidade. Desde então, marcas apostam em se aproximar da comunidade com o intuito de lucrar.

A indústria então notou que pessoas LGBTQIAP+ possuem um alto índice de consumo, por isso passaram a valorizar mais esse público, passando a incorporar a comunidade nas publicidades, mídias, conteúdos e diversos outros meios de comunicação pelo qual o cliente pode se identificar e realizar de fato a compra, surge então outro termo mais atual, o chamado “Queerbaiting”, a palavra une dois termos em inglês: “queer”, usado para se referir a minorias LGBTQIAP+, e “bait”, “isca” em inglês. Em resumo, o termo refere-se a comercialização de temas como isca para “pescar” o público LGBTQIAP+ usando a mídia, sem perder o público conservador, tendo como objetivo ter algum retorno financeiro ou de popularidade. As empresas que utilizam do queerbaiting buscam ser vistas como progressistas para adquirir pink money sem gerar afastamento de clientes preconceituosos.

Logo, a partir do momento que a indústria percebeu que poderia capitalizar e comercializar uma causa e passou a utilizar isso ao seu favor, ao olhar do capitalismo a prática é comum e ocorre para atingir seu principal objetivo, o lucro. Porém, quando olhamos no quesito pessoal e social em que momento a comunidade LGBTQIAP+ está sendo retratada igualmente aos outros públicos? Com a prática ocorre desrespeito com a vida de pessoas que sofrem com a negligência de seus direitos, suas dificuldades, seus anseios e suas lutas diárias e prejudica ainda mais a busca por uma abordagem do assunto de maneira verdadeiramente representativa.

Muitas empresas ainda não estão preocupadas com essa armação, já que conseguem transmitir uma falsa conexão para atrair esse público alvo e atingir suas metas. Entretanto, a prática é cada vez mais prejudicial, uma vez que o mercado e os clientes são bombardeado de conteúdos e informações sobre diferentes assuntos, as práticas dessas empresas fraudulentas podem estar prestes a acabar, um exemplo disso é o caso da Disney, em 2021 a marca lançou a primeira temporada da série que tem “Loki” como protagonista, e ao realizar a divulgação identificavam o irmão de Thor como não-binário. Porém, a fluidez de gênero de Loki praticamente não foi abordada na tela, logo os telespectadores notaram essa falsa participação de representatividade, percebendo apenas o intuito de manipular a jornada do cliente para gerar alguma identificação, fazendo com que a marca fosse culpada do queerbaiting.

O consumo do público LGBTQIAP+ e a relação com a indústria está diretamente ligado ao poder de consumo deles, utilizando dos termos conceituados apenas com o intuito de lucrar. É necessário que as marcas observem que a diversidade ultrapassa a esfera social, equipes diversas são mais tecnológicas, produtivas e mais rentáveis comprovadamente por estudos. Ao pensar na relação com esse público somente com o intuito de monetizar e abusar deles, o negócio fere toda a história de um grupo que luta há décadas por direitos, inclusão e respeito e ao invés de contribuir com a causa só corrobora ainda mais por sua exclusão e esquecimento. Portanto, conforme foi apresentado o público LGBTQIAP+ representa atualmente uma grande parcela no mercado de consumo, logo as empresas que quiserem de fato ter sucesso e constância no mercado deve, adaptar-se para otimizar verdadeiramente a jornada desse público, evitando assim que a empresa se aproprie de termos aqui citados apenas com o objetivo de lucro, pois como foi visto além de antiética e desrespeitosa, a prática não funciona mais.

Fonte:

FALCÃO, Valquíria. Você sabe o que é Pink Money?. Sergipe. 26 de maio 2021. Disponível em: https://portal.unit.br/blog/noticias/voce-sabe-o-que-e-pink-money/. Acesso em: 13 de Fevereiro de 2023.

GARCIA, Amanda. Entenda o que é o queerbaiting e como a prática se manifesta no meio artístico. 8 set. 2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/entenda-o-que-e-o-queerbaiting-e-como-a-pratica-se-manifesta-no-meio-artistico/. Acesso em: 14 de Fevereiro de 2023.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Brasileiro de 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/rendimento-despesa-e-consumo/9662-censo-demografico-2010.html?=&t=resultados. Acesso em: 13 de Fevereiro de 2023.

JORGE, Gilson. Consumo do público LGBT é até 4 vezes acima da média. 9 jul. 2016. Disponível em: https://atarde.com.br/economia/consumo-do-publico-lgbt-e-ate-4-vezes-acima-da-media-792958.Acesso em: 14 de fevereiro de 2023.

ROOKE, Chris. Loki may be bisexual but is Marvel still guilty of queerbaiting?. 1 jul. 2021. Disponível em: https://gcn.ie/loki-may-be-bisexual-but-is-marvel-still-guilty-of-queerbaiting/.Acesso em: 14 de Fevereiro de 2023.