ESG e a Diversidade nas Empresas: Costumer Success

Tendo em vista a infinidade de variedades dentre todas pessoas, apontar a necessidade de diversidade nas empresas como carente de investimento e historicamente prejudicada, ainda nos dias de hoje, pode sugerir algo abstrato, o que exalta a necessidade de reflexões quanto ao entorno de maneira mais profunda.

Para definir a diversidade de uma população ocorre a análise de demografia de territórios de acordo com semelhanças entre parcelas de população, sendo essas físicas, etárias, de gênero, de orientação sexual ou econômicas, e como essas agrupações foram afetadas histórica e socialmente frente a seus direitos, revelando defasagens e negligências.

Portanto, qualificar a diversidade dentro de uma organização depende diretamente da comparação entre a demografia da mesma e da comunidade onde está inserida e opera, revelando o quanto uma organização condiz e representa a população que busca atender, enquanto provedora de serviços.

Segundo o IBGE e levantamentos divulgados na Nature Scientific Reports por meio de pesquisas da Universidade de São Paulo (USP) e pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), a demografia brasileira é formada 56% por pessoas negras, 52% por mulheres, de 7 a 25% por pessoas portadoras de deficiência, variando de acordo com graus e tipos déficits, 2% de pessoas transgêneras e 10% por pessoas homossexuais. Enquanto, no estudo Diversidade, Representatividade & Percepção – Censo Multissetorial da Gestão Kairós, temos dentro das empresas uma média de 33% de pessoas negras, 32% de Mulheres, 2,7% de pessoas portadoras de deficiência, 0,4% de pessoas transgêneras e 5,4% de pessoas LGBP (Lésbicas, gays, bissexuais e panssexuais), caso que apenas se agrava quando cargos de liderança são salientados, exaltando reflexos de desigualdade e preconceitos.

Na Carta de Larry Fink aos CEO's de 2021, Larry Fink, presidente e CEO da BlackRock, maior empresa em gestão de ativos no mundo, a incúria na contratação das pessoas em razão da diversidade gera retenção de talentos e prejudica as organizações na busca por crescimento em todos os aspectos, qualificando-as como mais frágeis e, consequentemente, como inferiores no atendimento ao consumidor. Logo, não ser uma empresa diversa atinge diretamente a própria sustentabilidade e sugere uma gestão de risco, o que alavanca o desinteresse de investidores, colaboradores e clientes.

Em concordância com o avanço exponencial da notabilidade da aplicação real da diversidade, os princípios ESG (environmental, social and governance) aparecem como impulsionadores de sustentabilidade e garantia de sua aplicação nos negócios.

O termo ESG foi criado em 2004 em uma parceria entre o Pacto Global com o Banco Mundial em uma publicação nomeada como “WHO CARES WINS” e, como o nome sugere, trata sobre ações ambientais, sociais e de governança das organizações, representando a sustentabilidade empresarial.

De acordo com dados de uma pesquisa realizada pela PWC, 77% dos investidores institucionais buscam interromper a compra de produtos não ESG nos próximos dois anos, o que mostra um aumento de mais de 40% dos ativos de fundos que consideram os critérios ESG como indispensáveis, resultando em um acúmulo implantado de US$ 8,9 trilhões voltados a causa.

Detida nos pilares ESG como um elemento de equilíbrio ao revelar lutas de minorias, que indicam a parcela mais afetada da população, com prejuízos ambientais e sociais, influenciados diretamente pela governança, a diversidade apoia a transparência, acessibilidade e equidade que garante a compreensão e cuidado para com tais parcelas da sociedade.

Falar das ESG e diversidade diz respeito a práticas que garantem os direitos de todos os cidadãos, principalmente quando entende-se que a sustentabilidade empresarial é uma forma incontestável de fomentar causas de preservação de recursos, espaços e criação de oportunidades.

A prática de Greenwashing, que consiste na promoção, divulgação e utilização de selos e ações sustentáveis sem realmente tomar atitudes minimamente concretas voltadas aos impactos ambientais, não é mais viável para garantir a imagem das empresas e pode prejudicar fundamentalmente até mesmo seu valor no mercado de finanças.

Segundo a Climate Change and Sustainability Services, da Ernst Young, explorar e investir nos critérios ESG é cada vez mais indispensável, fortemente ligados às discussões no mercado de capitais ao fomentar a estabilidade e potencial de crescimento empresarial daqueles aderentes; em concordância com falas de Adena Friedman, CEO da Nasdaq, Inc, que se refere a diversidade no conselho como um elemento fundamental na sustentabilidade e longevidade futura de empresas, promovendo crescimento inclusivo fixo.

O Pacto Global: Rede Brasil, diz que para estar em conformidade com os princípios ESG uma empresa deve se perguntar se está em conformidade com os dez princípios do próprio Pacto Global e se possui ou contribui com projetos que buscam o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Alguns exemplos a serem citados são:

  • Em defesa dos direitos humanos e ODS’s 3, 5, 8, 10 e 16: Treinar todas as equipes quanto ao tratamento de pessoas - funcionários, fornecedores, investidores, clientes e etc - de acordo com suas particularidades, com respeito, equidade e acolhimento dentro e fora dos ambientes de colaboração.
  • Em defesa dos direitos humanos e das ODS, dependendo das ações escolhidas: investir em programas de suporte a causas sociais e ambientais, tanto nos padrões de ação da empresa quanto para causas externas.
  • Em defesa dos direitos humanos e das ODS’s 2, 7, 9, 11, 12, 15: aplicar políticas de economia de recursos, como não oferecer descartáveis, buscar práticas de utilização e reutilização de energia limpa, diminuir a emissão de gases estufa e a compra de empresas que não o fazem, ou até mesmo incluir o movimento da “segunda sem carne” no calendário da empresa.
  • Em defesa dos direitos humanos e das ODS’s 1, 4, 8, 10 e 16: Olhar para as pessoas além de preconceitos e primeiras impressões e gerir oportunidades para todos igualmente, mediante testes e treinamentos.

Porém, buscar aplicar a sustentabilidade, diversidade e ESG em macro-escopos não tem importância se não relacionados à Accountability e à responsabilidade corporativa. Quanto mais uma empresa passa a ser capaz de ter seus dados frente a suas ações expostos para que a sociedade possa ver como estes interagem com seus propósitos, ações, objetivos e valores maiores serão suas chances de consolidar um ecossistema de tecnologia e inovação.

Liliane Rocha, CEO e Fundadora da Gestão Kairós - Consultoria de Sustentabilidade e Diversidade, cita Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, no quadro ESG News, como exemplificação da aplicação de ESG, por meio de seu quadro de remuneração variável que, de acordo com aplicações dos princípios ESG dentro dos cargos e ações dos funcionários, tem 20% da composição da remuneração baseado em metas de sustentabilidade, incluindo a própria diversidade.

Visualizar a utilização de ESG claramente ligada a diversidade é visar a aplicação de Customer Success, desde que ações voltadas à sustentabilidade ambiental e social incentivam a possibilidade de todos usufruírem de recursos, serviços e oportunidade de acordo com seus direitos previstos em constituição, desde o direito a gozar de uma vida plena, a escolaridade, a igual remuneração e tratamento igual a todos perante a lei, sem qualquer distinção prejulgada.

A Mais Labs, Startup hub de diversidade, separa os passos iniciais de implantação de ESG voltados a diversidade em três steps:

  • Reconhecer dificuldades: Cada grupo étnico racial, de orientação sexual e de gênero e de condições sociais divergentes são diferentes em diversos aspectos e não devem ser tratados da mesma maneira. Portanto, reconhecer dificuldades e estar ter colaboradores abertos a diálogos é essencial para mediar as melhores formas de acolhimento e estabelecimento de equidade na organização.
  • Reconhecer a Importância de um ambiente mais diverso: Ambientes mais diversos são capazes de desenvolver resultados mais efetivos e dinâmicos, com mais pontos de vista e atendem a ESG ao explorar todos os aspectos da habilidade humana sem distinção pré-julgada. Reconhecer essa importância aumenta o potencial de implantação da diversidade em uma empresa.
  • Investimento: Investir em empresas e serviços que são diversas e prestam serviços especializados voltados à efetividade na implantação de diversidade dentro de empresas parceiras é uma forma de potencializar sua margem de sucesso e fomentar o posicionamento do seu negócio.

Aplicar a diversidade dentro de uma organização fomenta a ideia de pertencimento de clientes e colaboradores, que se reconhecem nos ideais empresariais, estabelecendo relacionamentos e fidelidades duradouros, que possibilitam estratégias de melhoria a longo prazo baseados em cases de sucesso da empresa e tornando a disseminação da marca mais efetiva.

ESG e Diversidade sugerem estabilidade e destaque em vista da competitividade empresarial passando a atrair o olhar do mercado de finanças e a possibilitar sua ascensão empresarial. Esse, entre muitos outros, é um motivo para encarar a diversidade como uma tecnologia de inovação.

Fonte:

SPIZZIRRI; Giancarlo et al. Proportion of ALGBT adult Brazilians, sociodemographic characteristics, and self-reported violence. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41598-022-15103-y. Acesso em: 16 de janeiro de 2023.

SPIZZIRRI; Giancarlo et al. Proportion of people identified as transgender and non-binary gender in Brazil | Scientific Reports. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41598-021-81411-4. Acesso em: 16 de janeiro de 2023.

PACTO GLOBAL: Rede Brasil. ESG: Entenda o significado da sigla ESG (Ambiental, Social e Governança) e saiba como inserir esses princípios no dia a dia de sua empresa. Disponível em: https://www.pactoglobal.org.br/pg/esg. Acesso em: 16 de janeiro de 2023.

IBGE; População; https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao.html. Acesso em: 17 de janeiro de 2023.

GESTÃO KAIRÓS; Diversidade, Representatividade e Percepção – Censo Multissetorial da Gestão Kairós. Disponível em: https://gestaokairos.com.br/publicacoes/diversidade-representatividade-e-percepcao-censo-multissetorial-da-gestao-kairos-2/. Acesso em: 17 de janeiro de 2023.

FINK, Larry; Carta de Larry Fink aos CEOs | BlackRock. Disponível em: https://www.blackrock.com/br/2021-larry-fink-ceo-letter. Acesso em: 17 de janeiro de 2023.

LAWLESS, Kyle; Five priorities to build trust in ESG. Disponível em: https://www.ey.com/en_br/public-policy/five-priorities-to-build-trust-in-esg. Acesso em: 18 de janeiro de 2023.

LINN T, Julie; How can boards strengthen governance to accelerate their ESG journeys?. Disponível em: https://www.ey.com/en_br/attractiveness/22/how-can-boards-strengthen-governance-to-accelerate-their-esg-journeys. Acesso em: 18 de janeiro de 2023.

AMARO, Mariana; Greenwashing: o que é e por que essa palavra pode impactar seus investimentos e suas compras - InfoMoney. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/economia/greenwashing-o-que-e-e-por-que-essa-palavra-pode-impactar-seus-investimentos-e-suas-compras/. Acesso em: 18 de janeiro de 2023.

ROCHA, Liliane em InvestNews Br; O que é ESG e em que ponto essa história começa? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TouUm8A87PU. Acesso em: 19 de janeiro de 2023.